Quem nunca abriu um iogurte fora de prazo e o cheirou para ver se ainda estaria bom que atire o primeiro rótulo. Os dilemas do homem moderno diante do frigorífico são muito diferentes dos seus antepassados preocupados em sobreviver na ida à caça.
Hoje, basta-nos abrir a despensa e tirar de lá o almoço. O prazo de validade vem na embalagem (os hortícolas frescos estão dispensados desta obrigação, exibindo apenas a data de embalamento) e não há perigo de comer algo estragado.
Ainda assim, há outras preocupações, como evitar o desperdício, e é bom saber que há alimentos que, pelas suas características, têm validade quase infinita se conservados adequadamente. São perfeitos para ter em stock sem medo que se estraguem.
Até que o prazo de validade nos separe
Na maior parte dos alimentos, a menção do prazo de validade no rótulo é obrigatória. Nos que são muito perecíveis, como o iogurte e outros frescos de validade curta, o prazo costuma vir referido com a data limite de consumo (“consumir até…”) para garantir a segurança do consumidor.
Quando a expressão usada é “consumir antes de…” ou “consumir de preferência antes de…”, como acontece no arroz, nas massas, nas bolachas ou nas conservas, estamos perante uma indicação de data de durabilidade mínima. Ou seja, significa que o prazo é mais alargado (desde que sejam garantidas condições de conservação apropriadas, claro).
Isto ocorre com alimentos que não se degradam de forma tão rápida e que, mesmo passado o prazo de validade, podem ser consumidos com relativa segurança, ainda que possam apresentar alterações de sabor e textura.
Sem rótulos!
Há alimentos dispensados da apresentação do prazo de validade. É o caso das frutas e dos hortícolas frescos, que não tenham sido descascados, cortados ou objecto de outros tratamentos similares.
Também os vinhos, os vinagres, o sal de cozinha e o açúcar em estado sólido, podem vir sem prazo de validade ou com a menção de “validade indefinida” ou “validade ilimitada”.
Dispensados estão ainda produtos de confeitaria compostos quase exclusivamente de açúcares e produtos de pastelaria e padaria que, pela sua natureza, sejam normalmente consumidos no prazo de 24 horas após o fabrico.
6 coisas que (quase) nunca se estragam
1. Açúcar e sal
O sabor não podia ser mais diferente, mas açúcar e sal têm algumas semelhanças, nomeadamente um teor de água quase nulo, o que dificulta o desenvolvimento de microrganismos. Por isso, eram usados antigamente como conservantes de outros alimentos.
Para permanecerem em condições óptimas, é essencial deixar a humidade a léguas, o que implica guardá-los hermeticamente fechados, em local seco, ter cuidados de higiene no seu manuseio (não usar colheres sujas, por exemplo) e fechar bem as embalagens depois de as utilizar.
Com a passagem do tempo, pode acontecer ficarem aglomerados em blocos devido à humidade, mas, ainda assim, podem ser consumidos em segurança.
2. Vinagre
Não há microorganismo que resista ao teor de acidez do vinagre, razão porque é outro produto com prazo de validade ilimitado. Este tempero milenar fabricado a partir da fermentação do álcool ou do açúcar presente em produtos tão variados como o vinho, a maçã, o arroz, a cana de açúcar ou a ameixa, ganha a acidez característica graças à acção de uma bactéria. É este detalhe que faz com que, ao contrário do vinho, o vinagre permaneça bom para consumo por tempo indefinido.
Outros poderão ganhar depósito e perder alguma acidez, mas, ainda assim, continuar bons para temperar saladas.
3. Arroz
Perfeito para comprar em promoção e guardar, o arroz é um dos produtos que tipicamente vem com indicação “Consumir antes do fim de…”, o que significa que tem prazo alargado. Na verdade, a menção é apenas indicativa.
Mais uma vez, o segredo é estar hermeticamente fechado para ficar a salvo de humidade, pó e insectos. Infelizmente, a proeza não vale para o arroz integral, porque o teor mais elevado de óleos que contém torna-o mais vulnerável.
4. Feijões secos
Além de serem muito nutritivos, os feijões secos podem durar algumas décadas (30 anos, de acordo com um estudo da universidade de Brigham Young!) e permanecer comestíveis, ainda que a qualidade nutricional vá diminuindo.
Apesar disso, será preferível comê-los em tempo útil, seguindo a indicação de validade da embalagem, em vez de os deixar como herança, já que, com o tempo, tendem a secar e demorarão muito a cozinhar.
5. Bebidas espirituosas
Ao contrário dos feijões este é um campo onde as heranças poderiam ser bem vindas, mas muito vai depender da bebida. O álcool puro tem validade indefinida, por isso, à partida, quanto maior o teor alcoólico de uma bebida maior o potencial para durar, dependendo, também, dos outros ingredientes presentes. Vodka, rum, whisky, gin, brandy ou tequila, são bebidas destiladas que podem durar indefinidamente.
Depois de abrir, a história é outra: lentamente, o álcool irá começar a evaporar e poderá haver oxidação passados 6 a 8 meses, o que faz o sabor alterar-se, mas, ainda assim, pode brindar sem perigo.
6. Café instantâneo
Ao contrário dos grãos de café moídos na hora ou do café moído embalado, o café instantâneo é um produto desidratado, ou seja, não contém humidade, o que faz com que seja capaz de salvar-nos da sonolência até 20 anos depois de o termos comprado, ainda que o sabor possa não estar tão… jovem.
Tome nota:
– Mesmo dentro do prazo, um alimento pode deteriorar-se rapidamente se for sujeito a uma manipulação ou conservação deficientes (calor ou contaminação)
– Independentemente do prazo, deve confiar na análise sensorial. Cheiro, cor e aspecto diferentes são sinal de que alguma modificação ocorreu, o que requer cuidados acrescidos no consumo
– Latas ou embalagens empoladas devem ser rejeitadas, já que este “inchaço” é um provável indício da existência de dióxido de carbono no interior, uma reacção que se dá quando há proliferação de microorganismos